07/03/2014

Michael O'Meara - A Revolução Européia de Drieu La Rochelle

por Michael O'Meara



"O tempo para a pequena política acabou: o próximo século inaugurará a luta pelo domínio da terra- a compulsão da política em larga escala" - Nietzsche, Além do Bem e do Mal, §208

Na noite de 15 de março de 1945, enquanto escondido do novo regime americano em Paris, Pierre Drieu La Rochelle engoliu uma dose fatal de gardenal.

O suicídio desse brilhante escritor normando, que escolheu a morte à derrota, fez pouco para manchar sua reputação subsequente.

Como escreve o historiador Pierre Nora no prefácio do Diário 1939-1945 de Drieu: "Para a geração do pós-guerra ele se tornou...um herói românico de proporções nietzscheanas, um inconformista lendário, um fascista sem sangue nas mãos, um intelectual que pagou o máximo preço por seguir suas convicções até o amargo fim. Sua personagem é de estatura mítica".

Estatura mítica, talvez - mas é Drieu o mártir revolucionário, ao desafiar a convenção de direita e esquerda em prol do destino da Europa, que, indubitavelmente, ainda nos fala.

De fato, poucos escritores de sua idade lidaram com os dilemas da Europa de forma tão intensa ou lúcida. Em seu romance semi-autobiográfico Gilles, ele escreveu que o homem existe apenas no conflito: "Nenhum pensamento, nenhum sentimento é real se não testado pela prova da morte".

O europeísmo revolucionário de seu pensamento continua a nos afetar, parece, não simplesmente porque suas preocupações ainda assombram nosso mundo, mas também porque sua descompromissada "prova da morte" lhe dá uma certa atemporalidade.

Franceses da geração de Drieu - "a geração de 1914" - eram atormentados por uma sensação de que seu mundo estava morrendo e um novo, não necessariamente melhor, estava lutando para nascer. Ao "questionar as bases de tudo", a crise espiritual iniciada pela Grande Guerra teceria seus feitiços por todo o período entreguerras (1918-1939).

O tema do soldado que retorna para se encontrar sem lar em sua própria pátria, conforme ele descobre que a nação pela qual ele lutou não é mais aquela que ele outrora conhecia, é uma que trespassa todas as obras de Drieu. Esse tema era particularmente ressonante na França, que mesmo antes da guerra era assolada por sentimentos de decadência e declínio.

Dado que ela foi o berço tanto da civilização medieval como da moderna, a França há muito dominava a Europa, não apenas no pensamento, gosto, e modelos legitimantes que ela fornecia para outros Estados europeus, mas militarmente e demograficamente. Então, no último terço do século XIX, a reunificação alemã, combinada com a elevada população e crescimento industrial que ela impulsionou, trouxe hegemonia francesa a um fim abrupto e humilhante.

Isso foi tornado dolorosamente óbvio durante a Guerra Franco-Prussiana de 1870 e ainda mais durante a Primeira Guerra Mundial, quando ela foi capaz de "derrotar" os alemães (que "meu povo, sozinho, havia atropelado facilmente por séculos") apenas em aliança com todas as outras potências mundiais.

Em sua primeira obra política, Mesure de France (1922), Drieu confrontou a "decadência" que parecia responsável pela corrupção do espírito francês, abordando uma questão que animaria toda sua obra subsequente.

Indiferente ao fato de que eles não mais eram o mesmo povo conquistador que havia sido em 1800, ele acusou seus conterrâneos, particularmente suas elites, de terem sucumbido às formas desvitalizantes que vem com a vida moderna.

"Todo lugar para que olho", ele observou, "eu vejo pessoas desorientadas que perderam todo o sentido das coisas - todo o sentido do que é sexo ou política - do que um líder, um homem, arte ou religião é".

O declínio da França, ele pensou, não era simplesmente o resultado do capitalismo moderno (como a esquerda sustentava) ou da democracia (como para a direita), mas uma desordem profunda na vida da nação, evidente em sua demografia disgênica. A população da nação havia crescido muito pouco no século XIX, enquanto a população alemã cresceu até quase dobrar de tamanho.

Para Drieu uma população infértil era sinal de uma vitalidade decrescente - e tudo que seguida disso, tal como o medo de risco, o rebaixamento de valores viris, uma fixação no conforto e na segurança, uma auto-centralidade desmobilizadora.

A consequência era inevitavelmente ameaçadora: "O homem", ele escreveu, "que mal cultiva seu domínio e deixa sua mulher estéril é vulnerável aos vizinhos que cobiçam suas posses".

Mas mais do que desarmar a França em um mundo de vizinhos cobiçosos, a decadência sabotando a sua força vital estava pingando sobre várias facetas de sua existência nacional, solapando seu poder, autonomia, e mesmo a habilidade de pensar os problemas que a afetavam. O início da imigração em massa na década de 20 parecia apenas a última e mais ameaçadora expressão dessa decrepitude.

O destino da França, Drieu acreditava, seria o da Europa como um todo, pois o século XX havia tornado não apenas as velhas formas civilizacionais, mas o sistema estatal vestfaliano obsoletos, dando início a uma era de impérios continentais que haviam reduzido a importância e soberania do Estado-Nação.

A Alemanha pode ter superado a França, mas ela jamais alcançaria hegemonia sobre o continente. Não apenas outros Estados europeus continuariam a formar coalizões contra ela, seu peso demográfico e econômico era significativo apenas em relação às pequenas nações européias. Enquanto tal, a Alemanha eventualmente sucumbiria ao mesmo declínio que a França - um declínio que afetaria não apenas sua viabilidade na arena internacional, mas sua habilidade de dominar os imperativos domésticos da vida moderna.

Enquanto a Europa permanecesse politicamente fraturada, ela arriscava, então, não apenas outra mutação fratricida, como a de 1914-1918, mas o domínio pelos poderes continentais do capitalismo americano e do comunismo russo (sem mencionar as dos impérios chinês e indiano que ele previu para o século XXI).

A França, ele reconheceu, estava destinada a se tornar ou uma "Irlanda" em luta perpétua contra impérios alógenos - ou um membro participante de um imperium europeu cuja paz e ordem governariam o mundo.

A França, a Alemanha, e os outros países europeus, em outras palavras, sobreviveriam a era dos impérios continentais, com suas economias de escala e "tirania de números", apenas se federalizando.

A federação, porém, não significava liquidação nacional. Diferentemente da atual Comissão Européia, desconectada da biocultura européia distinta, a noção federativa de Drieu não era sobre subordinar os povos do continente à primazia de princípios de mercado.

Sua preocupação era com o renascimento da Europa, não com a destruição econômica de suas etnonações. Influenciado em sua juventude por nacionalistas anti-liberais como Maurice Barrès, Charles Maurras, e Jacques Bainville, cada um dos quais ajudou a iniciá-lo no "culto da França", sua afeição por "Marianne", que ele amava "como uma bela mulher que ele poderia encontrar na rua à noite", era inquebrantável.

Mas ao mesmo tempo ele via que o nacionalismo, "essa ideologia do século XIX", havia alcançado um impasse histórico - tanto em termos de suas rivalidades autodestrutivas e das limitações que ela começava a impôr ao espírito europeu.

"Todos os nacionalismos", ele escreveu em 1928, "que fazem da pátria um fim ao invés de um começo estavam rejeitando as próprias energias e criatividade nascidas da pátria". Para o autor de L'Europe contre les Patries (1931), o nacionalismo na era continental havia se tornado um resíduo subversivo tanto da Europa como da própria nação.

Não a França, mas a Europa como comunidade espiritual de nações reivindicaria daí em diante sua lealdade: "A França deve morrer enquanto entidade política...para ela alcançar seu verdadeiro lugar espiritual".

A federação que ele visualizou se inspiraria nas identidades locais e instituições históricas na tradição da "comunidade de nações" de Montesquieu - unindo europeus com base nos legados grecorromano e cristão latino que partilhavam, nos empréstimos mútuos recíprocos que demarcavam suas histórias, e na herança institucional do ius publicum europaeum.

Para um neo-direitista francês (A. Guyot-Jeannin), a Europa de Drieu não era o Super-Estado exangue dos burocratas, banqueiros e empresários, mas uma "Europa espiritual, cultural, comunitária e enraizada" - protetiva de suas etnonações ricas e variadas e verdadeira a suas formas espirituais mutantes.

Não seria, enquanto tal, uma "união" aberta a todo o mundo e destrutiva de sua identidade específica - mas ao invés uma Suíça ampliada zelosa de suas diferentes famílias nacionais. A nação, ainda que carente de viabilidade em um mundo de poderes continentais, permanecia para ele um núcleo vital, pois a língua, a herança, e o lugar são partes íntimas da identidade individual.

Dado, porém, que a Europa após 1918 estava situada entre dois impérios extra-europeus hostis, sua divisão em vinte e seis Estados soberanos - nenhum dos quais tinha a capacidade de dominar os outros ou "se representar com dignidade na competição desproporcional de impérios continentais" - a colocavam em uma desvantagem distinta contra seus rivais, a impedindo de assumir sua posição política, sem mencionar a perspectiva espiritual, necessária para superar os desafios que a encaravam.

"Apenas na federação podemos reviver a alma defunta da Europa e assumir a linha da Europa cristã do século XIII ou do aristocrático e intelectual século XVIII... Este não é um sonho cosmopolita, mas uma necessidade premente, uma questão de vida e morte. A Europa vai se federar - ou devorará a si mesma ou será devorada".

Para esse fim, as nações europeus estariam daí em diante obrigadas a alterar suas relações umas com as outras.

"Nascidas da Europa, elas devem retornar à Europa".

Desde a dissolução do império de Carlos Magno, os europeus embarcaram em um movimento milenar de diferenciação, separando e distinguindo uns dos outros "como se fosse uma questão de quarentena". Com o início da Primeira Guerra Mundial, porém, a fase criativa desse movimento alcançou um ponto de retornos cada vez menores

Ainda que a Europa não pudesse ser Europa sem suas nações e morreria sem elas, Drieu mantinha que a viabilidade da nação dependeria daí em diante da Europa.

Ele assim exortava seus contemporâneos a se tornarem como os "bons europeus" de Nietzsche - "os herdeiros maximamente obrigados de milhares de anos de espírito europeu". Assim como eles superaram suas diferenças religiosas no século XVII, assim também eles agora precisavam minorar a primazia de suas identidades nacionais limitantes, se quisessem sobreviver ao século XX.

Isso tornava imperativo que eles abandonassem a "pequena política nacionalista" e as formas estatistas rígidas, que prometiam relegá-los e ao resto da Europa aos estratos mais baixos da ordem mundial vindoura.

Drieu reconheceu que a Europa era algo como um "mito", mas ela era não obstante um cuja ressonância histórico-civilizacional ainda possuía o poder de evocar essas forças que poderiam desafiar a decadência reinante.

Sua visão de federação, essa Europa das Pátrias, buscava nesse sentido reviver o espírito específico das formas vitais únicas e incomparáveis da Europa - e não dissolvê-la em um mercado global ultra-liberal.

A idéia de federação européia não era de modo algum exclusiva de Drieu.

Seguindo o armistício de 1918, europeus de quase toda classe e nação perceberam que outra guerra nascida da rivalidade nacionalista destruiria o continente. Na década de 20, a "idéia européia" assumiu várias formas: os Tratados de Locarno, o briandismo, o pan-europeísmo de Coudenhove-Kalergi, etc.

Drieu não partilhava de qualquer dos princípios pacifistas, humanitários ou democráticos que motivavam a unidade nesse período (princípios cujas premissas liberais ele via como derivadas da decadência européia), mas ele olhava para os movimentos iniciados como possíveis instrumentos para forjar um Estados Unidos da Europa.

Em Genève ou Moscou (1928), ele até entretinha a esperança de que os setores mais avançados do capitalismo europeu, tendo superado o mercado nacional, usariam a Liga das Nações para promover primeiro a unidade econômica, depois a política.

Sua esperança de tais reformas não sobreviveu, porém, à primeira década pós-guerra, que culminou na maior crise econômica da história moderna.

Frustrado pela imobilidade dos partidos de esquerda e direita perante a crise, ele começou na década de 30 a buscar uma alternativa revolucionária para regenerar a França e a Europa.

Nas demonstrações anti-governo violentas que abalaram a Terceira República da França em fevereiro de 1934 - conforme direitistas anti-liberais (principalmente veteranos organizados nas Ligues de extrema-direita) e esquerdistas anti-liberais (comunistas) olhavam de cima para as forças armadas do Estado, demonstrando que algo das antigas tradições viris da França ainda viviam nos corações de seus compatriotas - Drieu achou ter finalmente encontrado essa alternativa revolucionária no que ele chamou de Socialisme fasciste (1934).

O fascismo que ele abraçava nessa obra não era muito ortodoxo, assim como seu interesse nele era mais existencial que político.

Ao invés de seu nacionalismo pequeno-burguês, anti-comunista e estatista, era a oposição instintiva do fascismo à ordem liberal estabelecida, sua ênfase na juventude, saúde, liderança, rebelião, e ações viris, e especialmente sua vontade nietzscheana de viver perigosamente que o atraíam.

Similarmente, ele permaneceu crítico das concessões que os fascismos italiano e alemão fizeram ao que os franceses chamavam de juste milieu - isto é, o centrismo liberal que abomina a política radical ou contenciosa.

O fascismo de Drieu (como o de muitos outros intelectuais fascistas) derivava essencialmente de sua identificação com sua vontade de superar a decadência nascida da era moderna e, ao fazê-lo, realizar uma comunidade espiritual superior.

Como ele escreveu em 1938: "Viver mais intensamente e plenamente é o que significa hoje ser fascista" (o que explica, talvez, porque, após seis décadas, o anti-fascismo continua obcecando a esquerda).

O socialismo de Drieu, oposto como era a mercados irrestritos indiferentes a coesão social e valores espirituais, tinha pouco em comum com o socialismo marxista, com seu universalismo judaico, coletivismo, e materialismo anestesiante. Ao invés, o seu era o "socialismo" que Spengler atribuiu aos prussianos - o socialismo "orgânico" e "autoritário" que subordinava a economia à nação e perseguia fins "sociais" privilegiando o desenvolvimento do espírito e vitalidade da nação. Isso, ele afirmava, era um socialismo do coração, não do estômago. Acima de tudo, era um socialismo que era europeu, ao invés de nacionalista.

A noção de Drieu da revolução socialista do fascismo também parecia guardar a possibilidade de unir fascistas e comunistas em uma aliança anti-liberal que poderia levar à formação de uma elite enérgica e jovem para reacender o espírito decadente da Europa e criar um novo homem cuja vitalidade intrépida transcenderia as formas multitudinárias da decadência moderna.

Seu "socialismo fascista", em uma palavra, se opunha à modernidade liberal em prol de uma Europa alternativa, arqueofuturista.

Em 1936, Drieu se uniu ao recém-criado Parti Populaire Français de Jacques Doriot, que ele pensou poder servir como agente para a revolução européia.

Indiscutivelmente o maior trabalhador revolucionário produzido pela Terceira Internacional, Doriot foi expulso do Partido Comunista Francês em 1934, após o que sua transição para a direita revolucionária abriu o caminho para a formação de um partido fascista de massas na França (tendo em meses recrutado 130.000 membros).

Doriot, porém, desapontaria Drieu e ao final de 1938 ele relutantemente abandonou o PPF.

O período seguinte seria um de extremo desespero para Drieu, pois não apenas havia o prospecto de uma revolução fascista francesa sido desperdiçado, a ameaça de outra guerra mundial despertava seus piores medos.

Após a Batalha da França (maio-junho 1940) - que confirmou sua péssima opinião do regime parlamentar francês e sua crença de que seu exército, ao sofrer a maior derrota na história da nação, refletia a natureza esclerótica de sua ordem social burguesa - Drieu tentou tirar proveito de uma situação ruim ao colaborar com a ocupação alemã.

Através da colaboração ele esperava criar uma França fascista capaz de comandar o respeito da Alemanha Nacional-Socialista e, no processo, tornar o fascismo menos nacionalista e mais europeu e socialista.

Ainda que um europeísta racialmente consciente cuja identificação pessoal era com a França Celto-Germânica e sua herança nórdica, o alto, loiro e de olhos azuis Drieu não era germanófilo. Na verdade, ele previamente se opunha à idéia de que a unidade européia poderia ser alcançada sob uma única hegemonia nacional. Ele também não aprovava o expurgo da "ala de esquerda" (as SA de Röhm) do NSDAP, bem como as concessões feitas ao Estado-Maior da Wehrmacht reacionária e à Grande Indústria.

Se resignando ao fato de que os franceses falharam em realizar sua própria revolução, ele estava agora inclinado a pensar que ela precisava ser imposta de fora.

Assim como os estados nortistas forçaram o sul a criar os EUA, ele pensou que a coerção alemã poderia levar aos Estados Unidos da Europa.

Nesse espírito, ele assumiu a editoria da revista de mais prestígio da França, a Nouvelle Revue Française, passou a escrever artigos semanais para a Révolution Nationale de Doriot, participou de diversas atividades projetadas para dar substância a ideais "colaboracionistas", olhava para Hitler em prol da unificação da Europa pela realização do tipo de revolução que reviveu a Alemanha após 1933.

O ditador alemão, ele esperava, se tornaria o Augustus de uma Europa politicamente unida.

Novamente ele se desapontaria.

Já pelo início de 1942, mais de um ano antes de Stalingrado e Kursk, ele percebeu que a Alemanha estava para perder a guerra.

Ainda pior, ele passou a ver que Hitler não tinha o menor interesse em colaboração ou revolução genuínas.

Virtualmente por todo lado na Europa ocupada pela Alemanha, "esse filho de um oficial alfandegário austríaco" havia escolhido colaboradores entre conservadores e reacionários, enquanto revolucionários fascistas na França, Bélgica, Hungria, Romênia e outros lugares estavam sendo reprimidos ou marginalizados. (O inócuo Quisling era meramente a exceção provando a regra).

A falha de Hitler em unir a Europa e realizar uma revolução socialista foi, porém, mais do que uma decepção para Drieu: ela anunciava a derrota vindoura. Como ele afirmou na Révolution Nationale (dezembro 1943), a Alemanha seria européia ou não seria - e cada vez mais parecia que ela não seria.

Os escritos geopolíticos de Drieu entre 1941 e 1944 eram mais penetrantes do que muito do que estava então sendo escrito sobre a guerra nos EUA e Grã-Bretanha, mas sua crítica crescente do pan-germanismo conservador de Hitler, e os efeitos desastrosos que isso estava tendo para o Eixo, eram majoritariamente reservadas para suas obras não publicadas (ainda que algumas de suas obras críticas hajam atravessado a censura).

Em seu postumamente publicado Récit Secret (1951), ele confessou diretamente que "no que eu escrevi e disse [nesse período] eu evitei enfatizar a extensão de meu desgosto em relação a Hitler que estava danificando a Europa tanto quanto seus inimigos".

Dessas fontes publicadas e não publicadas, sabemos que Drieu havia abandonado toda esperança de uma federação européia sob direção alemã. Os alemães, ele concluiu, eram totalmente inconscientes da magnitude das tarefas diante de si: Em seu diário ele escreveu que ele "havia visto o bastante dos alemães para achá-los tão idiotas quanto os franceses".

A estratégia militar alemã não estava somente equivocada, permitindo às forças britânicas e americanas penetrar no Mediterrâneo, ela era desprovida de qualquer sentido político, tratando outros europeus como Untermenschen, falhando em realizar as políticas na Europa ocupada que haviam trazido as massas para o Nacional-Socialismo na Alemanha, e substituindo objetivos militares por imperativos políticos (como se os primeiros, pace Clausewitz, não fossem uma derivação do segundo).

Hitler, ele passou a ver, era por demais um nacionalista oitocentista - ignorante das mudanças ocorridas no mundo desde 1914 e dos perigos que agora ameaçavam a existência da Europa - para estar à altura dos desafios da Europa do século XX.

Mais conservador do que revolucionário, o fascismo alemão, Drieu resumiu, estava "morrendo por timidez".

***

Cada vez mais alienado dos ocupadores e obcecado com o fim iminente da Europa, Drieu se recusou a romper com a Colaboração, assim como ele se recusou a buscar refúgio na Suíça ou outros lugares, uma vez que a possibilidade se apresentou após 1943. Ele sentia que essa era uma questão de honra.

Muito interessante no europeísmo de guerra de Drieu era sua crescente admiração da Rússia Stalinista, cujo valor militar e vontade de poder estavam se provando superiores aos dos alemães.

Drueu há muito tinha uma relação ambivalente com o comunismo. Ele desprezava o marxismo como uma ideologia cujas simplificações podem ter enganado as massas, mas eram uma ofensa ao espírito crítico, assim como ele pensava que seu "culto da produção" era o verso do materialismo burguês.

E como a Nova Direita européia hoje, ele acreditava que revoluções reais nasciam de uma radical transformação de valores, não das mudanças social-democráticas que os marxistas defendiam. É por isso que para ele Nietzsche era o único revolucionário da idade moderna.

Em linha com Roma e Berlim, Moscou havia alcançado mais, ele afirmava, ao seguir princípios nietzscheanos do que os do judeu do Reno.

Ao mesmo tempo, Drieu percebeu que um espírito anti-burguês, vigoroso e corajoso similar ao espírito fascista existia dentro das fileiras comunistas, constituindo outra alternativa possível à decadência européia.

Em conformidade com isso, o "nacional-comunismo" dos russos não era para ele o bicho-papão judaico que alguns conservadores americanos e europeus diziam, mas uma força de auto-afirmação eslava.

Com a derrota iminente do fascismo, a autocracia soviética, ele viu, logo estaria sozinha contra as democracias plutocráticas representando a vanguarda da decadência moderna.

Porque os anglo-americanos eram inferiores em capacidade militar aos russos, Drieu equivocadamente superestimou o potencial desses, pensando que o Exército Vermelho poderia conquistar toda a Europa - trazendo a unidade européia sob o martelo e a foice.

Em qualquer caso, ele preferia uma Europa dominada pelos russos do que pelos americano, pois estes (como um resíduo de presidiários fugitivos, de desertores...que passou diretamente da barbárie à decadência) não eram nem uma raça, nem uma cultura, mas uma multidão de mestiços ressentidos do espírito europeu.

***

Enfim, em algum ponto no fim de 1944, a Revolução Européia de Drieu, o fio vermelho permeando todas as suas iniciativas adultos, se rompeu.

As forças capitalista, fascista e comunista para as quais ele sucessivamente olhou haviam cada uma falhado em estabelecer uma alternativa para a decadência prevalecente.

Dificilmente seria necessário acrescentar que a União Européia de hoje não é qualquer coisa além de uma caricatura do que ele buscava.

Que os prospectos da vida francesa e européia se tornaram progressivamente piores desde sua morte e que a Europa agora arrisca se tornar uma colônia afro-asiática testemunha, indubitavelmente, a credibilidade de sua visão continental - e o imperativo ainda de realizar uma revolução para liberar a Europa da corrupção, estagnação e desvirilização - da "decadência" - que frustra as formas vitais únicas à Europa