09/08/2011

Jean Thiriart, Teórico da Revolução Européia

por Christian Bouchet

Poucos são os franceses aos quais o nome de Jean Thiriart evoque alguma lembrança. Desde 1960 a 1969, através da organização européia transnacional "Jeune Europe" e o mensal "La Nation Européene" promoveu a primeira tentativa, inigualável de criação de um Partido Nacionalista Europeu e Revolucionário e definiu claramente em seus escritos o que forma parte do corpo doutrinário de não poucos movimentos nacionalistas da Europa.

Nascido no seio de uma grande família liberal de Liége que teve grandes simpatias pela esquerda, Jean Thiriart militou primeiro na "Jeune Garde Socialiste" e na "Union Socialiste Anti-Fasciste" e durante a Segunda Guerra Mundial na Fichte Bund (uma liga seguidora do movimento Nacional-Bolchevique de Hamburgo dos anos 20) e no "Amis du Grand Reich Allemand", uma associação que reagrupa na Bélgica latina a antigos elementos da extrema-esquerda favoráveis à colaboração européia, e inclusive à anexação ao Reich.

Condenado a três anos de prisão depois da "Liberação", Thiriart não ressurge politicamente até 1960 participando, durante a descolonização do Congo, na fundação do "Comité d'action et de Défende des belgiens d'Afrique" que transformou-se mais tarde na "Mouvement d'Action Civique". Em pouco tempo Jean Thiriart converte este grupo poujadista em uma estrutura revolucionária eficaz que - considerando que a tomada do poder pela OAS [*Organização do Exército Secreto, um movimento nacionalista de militares] na França seria um tremendo trampolim para a revolução européia - aportou um apoio eficaz e sem falhas ao Exército Secreto.

Paralelamente, organizou-se uma reunião em Veneza em março de 1962. Participando Thiriart pelo MAC e pela Bélgica, o "Movimento Sociale Italiano" pela Itália, o "Sozialistische Reichspartei Deutschlands" pela Alemanha e o "Union Movement" de Oswald Mosley pela Grã-Bretanha. Em uma declaração comum, estas organizações declararam querer fundar "Um Partido Nacional Europeu, enfocado na idéia de uma Unidade Européia, que não aceita uma satelização do Oeste pelos Estados Unidos e que não rende-se na reunificação dos territórios do Leste de Polônia a Bulgária passando pela Hungria." Porém o Partido Nacional Europeu tem uma curta existência, os arcaicos e estreitos nacionalismos de italianos e alemães fazem romper logo suas visões pró-européias.

Isto, acrescentado ao fim inglório da OAS fez refletir Thiriart, que chegou à conclusão de que a única solução estava na criação de um Partido Europeu Revolucionário em uma frente comum junto aos partidos e países opostos à ordem de Yalta.

Resultado de um trabalho iniciado nos fins de 1961, o MAC transforma-se em Jovem Europa, organização européia que implanta-se na Áustria, Alemanha, Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Países Baixos, Portugal e Suíça. O novo movimento está fortemente estruturado, insiste no treinamento ideológico em verdadeiras escolas de quadros, tenta fundar uma central sindical embrionária, o Sindicato Comunitário Europeu. Ademais Jovem Europa pretende fundar as Brigadas Revolucionárias Européias para começar a luta contra o ocupante norteamericano e busca um pulmão exterior. Daí, os contatos com a China comunista, Iugoslávia e Romênia, assim como com o Iraque, Egito e a Resistência Palestina.

Se Jean Thiriart é reconhecido como um revolucionário com o qual contar - entrevistou-se com Zhou En-Lai em 1966 e com Nasser em 1968 e tem seu acesso proibido a 5 países europeus - e se a aportação militar de seus militantes no combate anti-sionista não é discutido - o primeiro europeu a cair com arma em mãos combatendo o sionismo, Roger Coudroy, era membro do Jovem Europa - seus potenciais aliados sentiram-se impedidos por reflexos ideológicos ou assuntos diplomáticos que não permitiram-lhes prestar à Jovem Europa a assistência material e financeira desejada. Ademais, depois da crise da descolonização, a Europa beneficiou-se de uma década de prosperidade econômica que tornou mais difícil a sobrevivência de um movimento revolucionário. A imprensa da organização, primeiro "Jovem Europa" e depois "A Nação Européia" teve uma certa audiência e uns colaboradores de alto nível, entre os quais encontravam-se o escritor Pierre Gripari, o deputado de "Alpes Maritimes" Francis Palmero, o embaixador da Síria em Bruxelas Selim El Yafi, o do Iraque em Paris Nather El Omari e Tran Hoai Nam, chefe da missão vietcong na Argélia assim como personalidades como o líder negro Stockeley Carnichael, o coordenador do Secretariado Executivo do FLN Cherif Belkacem, o Comandante If Larbi e Djambil Mendimred, ambos líderes do FLN argelino ou o predecessor de Arafat à cabeça da OLP, Ahmed Choukeiri aceitaram sem dificuldade as ofertas de entrevistas. E o General Perón, exilado em Madri, declarará "Leio a Nação Européia com regularidade e compartilho completamente de suas idéias não só em relação à Europa senão a todo o mundo".

Em 1969, decepcionado pelo relativo fracasso de seu movimento e pelo tímido apoio internacional, Thiriart renuncia a seu combate militante. Apesar dos esforços de alguns de seus Executivos, Jovem Europa não sobreviverá ao abandono do principal Chefe. Não obstante há uma reivindicação parecida a princípios dos anos 70, nos militantes da Organização "Luta do Povo" na Alemanha, Áustria, Espanha, França, Itália e Suíça, nos anos 80 nas equipes da revista belga "Vontade Européia" e na francesa "O Partisan Europeu", assim como na tendência Terceirista Radical no seio do movimento NR francês "Troisième Voie". Jean Thiriart sairá do exílio político em 1991, para apoiar a criação da Frente Européia de Liberação a qual viu como sucessora da Jovem Europa. Ele ia na delegação do FEL que foi a Moscou entrevistar-se com os líderes da oposição a Boris Yeltsin. Infelizmente Jean Thiriart sofreu um ataque do coração pouco depois de voltar à Bélgica. Deixou inacabados vários trabalhos teóricos, nos quais analisava a evolução do combate anti-americano após o desaparecimento da URSS.

Inspirado por Maquiavel e Pareto, Thiriart disse que era um doutrinário do racional e rechaçou as classificações comuns da política, agradava-lhe citar uma frase de Ortega y Gasset "Ser de esquerda ou direita é uma das infinitas maneiras das quais dispõe o homem para ser imbecil, ambas são, de fato, formas de hemiplegia moral". O Nacionalismo que desenvolveu era um ato de vontade, o desejo comum de uma minoria de fazer algo. Estava baseado em considerações geopolíticas. Somente tem, para ele, "futuro as nações de amplitude continental (EUA, China, URSS), se queres fazer grande e importante a Europa, tens que unificá-la através da constituição de um Partido revolucionário de tipo leninista que inicie imediatamente a luta pela liberação contra o ocupante americano e seus colaboradores, os partidos do Sistema e as tropas coloniais da OTAN. A Europa Ocidental, liberada e unificada poderá então entrar em negociações com a ex-URSS para construir o Império Europeu de Galway a Vladivostok capaz de resistir à Nova Cartago americana e ao Bloco Chinês e seus milhões de habitantes."

Oposto aos modelos federais e confederais, assim como à "Europa das 100 bandeiras", Thiriart que definiu-se como um "jacobino da Grande Europa" quis construir uma Nação unitária concebida nas bases de um Nacionalismo de integração de um extenso Império dando a todos seus habitantes a cidadania e a herança legal e espiritual do Império Romano.

No plano econômico Thiriart rechaça "a economia do proveito" (capitalismo) e "a economia da utopia" (comunismo) para advogar pela "economia do poder" que promove o desenvolvimento do máximo potencial nacional. Sem dúvida, em sua mente a única dimensão viável para esta economia é a Europa. Discípulo de Johann Gottlieb Fichte e de Friedrich List, Thiriart é partidário da "autarquia dos grandes espaços", assim Europa saindo do FMI e dotada de uma moeda única, protegida por sólidas barreiras aduaneiras e velando por sua auto-suficiência poderia escapar às leis da economia global.

Apesar de datar dos anos 60, os livros de Jean Thiriart são surpreendentemente atuais. Desde 1964 descreveu o desaparecimento do partido russo na Europa, mais de 10 anos antes do nascimento do Eurocomunismo e aproximadamente 25 anos antes dos transtornos da Europa Oriental. Da mesma maneira sua descrição dos milhares de "quislings" americanos é todavia uma realidade na Europa e tem sido demonstrada recentemente nas posições de muitos dos políticos durante a Guerra do Golfo, os distúrbios na antiga Iugoslávia ou nas últimas insurreições africanas. Também avisou sobre a leitura do ianque James Burnham, conselho que ainda pode-se seguir encontrando no livro deste último: "Pela Dominação Mundial" frases como estas: "Devemos abandonar o que resta da doutrina da igualdade das nações. Os Estados Unidos deve permanecer abertamente como candidato à direção da política mundial."

Discutível em certas coisas (jacobinismo, demasiado racionalismo, etc...) não ignoramos que Thiriart permanece como um dos nossos maiores mentores deste século. Corresponde-nos nutrir suas teorias, avaliá-las e saber aplicá-las para abordar as dificuldades do ano 2000.