28/11/2013

François Duprat - O Ba'ath: Ideologia e História

por François Duprat



O único partido nacionalista árabe restante digno desse nome é o Ba'ath já que os diversos movimentos de tipo nasserista foram incapazes de conduzir à criação de uma força ideológica e política nos diversos países árabes. O Ba'ath deve ser estudado portanto como o único representante da ideologia unionista árabe, organizada em um partido e não limitada a um movimento de opinião, ainda que seja de grande magnitude (ontem o nasserismo, hoje em dia o gadaffismo).

A Ideologia do Ba'ath

O Ba'ath oferece a particularidade de ser o único partido político pan-árabe (o único se deixarmos de lado o caso original do Partido Sício Social-Nacionalista) a ter tentado elaborar uma doutrina nacional-revolucionária razoavelmente coerente graças às análises políticas e históricas de seu fundador e líder, Michel Aflaq (um sírio grego-ortodoxo) primeiro em seus inúmeros artigos dispersos e acima de tudo em sua obra de síntese Fi sabîl al-Ba'ath (Na Via da Ressurreição), publicada em Damasco em 1959, nos tempos da União Sírio-Egípcia, no seio da República Árabe Unida.

Aflaq analisa tanto seu nacionalismo como sua oposição à filosofia marxista:

"A Nação Árabe tem uma história independente da história do Ocidente e da Europa; as teorias e as formas de organização que surgem da civilização ocidental nascem de condições próprias do Ocidente e não correspondem às necessidades dos países árabes pelo que estas não encontram um entorno favorável.

A Nação Árabe não é uma pequena nação de importância secundária que pode adotar uma mensagem distinta ao que lhe é próprio, marchar sobre os passos de outra nação e se alimentar de seus restos...

A doutrina marxista é uma ameaça para os países árabes porque ameaça com fazer desaparecer sua personalidade nacional e porque impõe ao pensamento árabe moderno um ponto de vista partidário, tendencioso e artificial destruindo a liberdade e a integralidade desse pensamento".

Para Aflaq, não-muçulmano, o nacionalismo árabe não obstante se encontra "inspirado" pelo Islã, porém de uma forma bem distinta daquela pela qual advogam a Irmandade Muçulmana ou o Coronel Gaddafi:

"Toda nação...possui uma força motriz essencial...essa força motriz foi a religião ao momento da aparição do Islã. Em efeito, somente a religião era capaz de revelar as forças latentes dos árabes, de realizar sua unidade... Hoje... a primeira força motriz dos árabes...é o nacionalismo... Os árabes estão como mutilados em sua liberdade, sua soberania e sua unidade que não podem compreender outra linguagem que a de seu nacionalismo".

O Ba'ath, no reconhecimento do papel positivo da religião islâmica na tomada de consciência da unidade árabe (nos termos da Umma, a comunidade dos crentes), é portanto um partido nacionalista laico.

Porém o Ba'ath se apresenta também como um partido socialista:

"O socialismo do Ba'ath está em perfeito acordo com a vida da sociedade da nação árabe...

Ele se limita a organizar a economia em vistas a redistribuir a riqueza no mundo árabe, de assentar as bases de uma economia que garante a justiça e a igualdade dos cidadãos e de promover uma revolução na produção e nos meios de produção...

Nosso socialismo está impregnado por uma filosofia que emana entre os árabes de suas necessidades próprias, suas condições históricas e suas particularidades. A filosofia do Ba'ath não aprova a concepção materialista da filosofia marxista... Nosso socialismo se apóia no indivíduo e sua livre personalidade. O socialismo do Ba'ath considera que a força principal de uma nação reside nos motivos individuais que levam aos homens a atuar, o partido se abstém portanto de abolir a propriedade privada, busca limitá-la...de maneira que se evite qualquer abuso...

Nosso socialismo não poderá prosperar definitivamente senão no marco do Estado Árabe Unitário, quer dizer quando todo o povo árabe seja liberado, quando desapareçam os grilhões tais como o imperialismo, o feudalismo e as fronteiras geográficas impostas pela política, que se opõem ao êxito do socialismo".

Em uma entrevista com Benoist-Méchin (em "Uma Primavera Árabe"), Michel Aflaq apresentou de forma particularmente potente sua definição da Nação e das relações que ligam o indivíduo à comunidade histórica: "...Nós somos os nacionalistas árabes. Nós devemos elevar o homem a sua dignidade suprema. Este objetivo não é realizável mais que em um marco nacional. Um homem não é plenamente ele mesmo mais que no seio de suanação. A nação é o teatro em cujo interior o homem desempenha um papel para realizar seu destino individual. Ao suprimir o teatro já não existirá dito papel. De repente o homem se desaba sem sentido..." (p.340)

A tomada de posição soviética em favor da causa árabe e em particular no tema palestino, os importantes interesses da URSS no seio do mundo árabe, muitas vezes nos levam a pensar que o nacionalismo árabe chegou a um acordo com o comunismo internacional, ou se viu convertido em uma filial. O problema se encontra, em particular no caso do Ba'ath, em razão das muito boas relações entre os dois regimes baathistas do Iraque e da Síria com Moscou.

A realidade resulta bem diferente dada a hostilidade permanente do Islã contra o materialismo marxista, os árabes por sua vez descobriram no imperialismo soviético algo tão pungente quanto o que lhes havia precedido.

Inclusive no momento da primeira reunião entre os nacionalistas árabes e a União Soviética, os primeiros foram marcando uma clara distinção entre a URSS e os partidos comunistas árabes.



Assim, o manifesto de criação do Ba'ath (escrito por Aflaq) declarava em 1944:

"Nós não estamos contra a União Soviética, nós fazemos uma distinção bem clara entre a URSS e o Partido Comunista Sírio local. Nós árabes não temos razão alguma para nos opormos a um grande Estado como a URSS que depois de sua formação demonstrou simpatia pelos países que lutam por sua independência. Nosso objetivo é estabelecer relações amigáveis com a URSS para ter relações normais de tratados oficiais e intergovernamentais e não através do partido comunista local. Os triunfos do comunismo se dão aqui pela debilidade dos espíritos. Porém um árabe bem informado não pode ser um comunista sem abandonar o arabismo, os dois são incompatíveis, o comunismo é estrangeiro a tudo que é árabe. Ele será o perigo maior para o nacionalismo árabe já que será incapaz de dar uma definição sistemática de seus objetivos".

Nessa época, o Ba'ath lucidamente julga que o comunismo na terra árabe jogava a carta do chauvinismo e do anti-imperialismo; nessa ótica, se o nacionalismo árabe não se converte em uma estrutura ideológica, será literalmente absorvido pelo comunismo. Daí se dão os esforços de Aflaq para dotar seu partido de um aparato ideológico coerente capaz de ser um responsável do desafio ao marxismo. Por este logro, a ação ba'athista a favor do "socialismo árabe" está planejada para socavar a hera sob os pés dos propagandistas marxistas. Porém este "socialismo árabe" (comum também a todos os movimentos unionistas) não tem nenhum ponto em comum com o marxismo-leninismo. Ele é uma simples projeção do nacionalismo, um meio para tornar factível o nacionalismo, assim é que Aflaq reconhece explicitamente:

"Os nacionalismos árabes compreendem que o socialismo é um meio mais seguro para logar o renascimento do nacionalismo e da nação porque sabem que o combate dos árabes na época atual repousa na união dos árabes e que não é possível que eles participem unidos neste combate, se estão divididos entre senhores e escravos.

Portanto nós pensamos que os árabes não poderão realizar seu renascimento se não estão convictos de que o nacionalismo implica em justiça, igualdade e vida digna em sociedade".

Este "socialismo árabe", só pode atrair a clássica resposta marxista: "Populismo pequeno-burguês!", "Demagogia social-fascista!"

De todo modo, o socialismo ba'athista é idêntico ao de todos os movimentos de tipo fascista e Aflaq se limita a demarcar os pensadores fascistas ocidentais (apesar de sua hostilidade de princípio aos "ideólogos estrangeiros ao mundo árabe" de que faz uso contínuo para repelir o comunismo), tudo contra as divisões marxistas da luta de classes.

Resenha História do Ba'ath

O Ba'ath se constituiu em 1944 na Síria, depois de se estender a vários países árabes; é necessário estudar país por país (ou melhor ainda, segundo a terminologia baathista, região por região).

Síria



O Ba'ath de 1944-45, foi implementado unicamente em Damasco, não constitui mais que um pequeno movimento de intelectuais, ao redor de Michel Aflaq e outros de seus amigos. O papel limitado que desempenhou não impediu que fosse proibido pela ditadura do Coronel Chichakly em abril de 1952 e será novamente autorizado em setembro de 1953, levando a cabo um processo de unificação com um pequeno partido próximo: o Partido Socialista Árabe (al-Hizb al-Ifritayets al-Arabi), criado em 1950 por Akram Haurani. Os dois movimentos se fundiriam um pouco mais tarde sob o nome definitivo de Ifrikayets al Ba'as al-Arabi: Partido Socialista do Renascimento Árabe.

Nas eleições de 1949, o pequeno partido ba'athista só obteve quatro assentos, ao contrário do partido unificado que se asseguraria uma posição muito sólida nas eleições de 1954, depois da queda do ditador ganharam dezessete assentos.

Sob a direção de Chukri al-Kouatly, Presidente da República depois de agosto de 1955, a Síria se move à esquerda e nas eleições de maio de 1957, a Frente Nacional Progressista (formado pelo Partido Comunista, pelo Ba'ath, pelo Partido Cooperativo Socialista e pelo Partido Nacional, de al-Kouatly) prevalece sobre os partidos de direita (Partido do Povo, Movimento de Liberação Árabe, do ex-ditador Chichakly, e Fraternidade Muçulmana). Rapidamente o Partido Comunista, que havia desenvolvido uma grande influência e infiltrado o Partido Nacional se enfrenta aos ba'athistas, hostis ao marxismo e em novembro de 1957 para salvar a Síria do comunismo, a Assembléia Nacional vota, sob a direção do Partido Ba'ath e do Partido Nacional (sob controla da ala de direita) uma resolução em favor da união com o Egito, união que será realizada em 1 de fevereiro de 1958, sob o nome de República Árabe Unida. O Partido Comunista é declarado ilegal pelo novo regime unionista, porém o Ba'ath será rapidamente "absorvido" pelos nasseristas (em particular pelo onipotente Coronel Serraj, chefe dos serviços de segurança e posterior ministro do interior da "província síria" da RAU).

Em dezembro de 1959, os ministros ba'athistas caem e seu partido se torna clandestino até o putsch militar de 28 de setembro de 1961, causando o fracasso da RAU e que leva ao nascimento de um regime liberal reautorizando os partidos (salvo o Partido Comunista, que será proscrito até fevereiro de 1966 e o PPS que se mantém como ilegal). As eleições de dezembro de 1961, logo do colapso do regime unionista, resultam em um êxito muito limitado para o Ba'ath, os partidos conservadores asseguram uma ampla maioria no Parlamento:

Partido do Povo: trinta e dois assentos (grande ganhador das eleições), Partido Nacional (purgado de seus elementos de esquerda) vinte e dois assentos, Fraternidade Muçulmana: seis assentos, Ba'ath: vinte e quatro assentos.

Os outros assentos são atribuídos aos independentes ou aos partidos minoritários; quanto ao Movimento de Liberação Árabe e ao Partido Cooperativo Socialista, não sobrevivem à morte de seus fundadores.

No período seguinte, o governo moderado (o Ba'ath se encontra na oposição) se expõe às ações inconsideradas dos oficiais ambiciosos. Os ba'athistas preparam um golpe de Estado com os oficiais pró-nasserianos, putsch que ocorre bruscamente em 8 de março de 1963.

O êxito do golpe se dá rapidamente e se constitui um Conselho Nacional da Revolução sob o comando do General Atassi, enquanto que o chefe da ala de direita do Ba'ath Salah al-Din Bitar, forma o novo governo, com uma grande maioria ba'athista. As personalidades conservadores são levadas ao isolamento cívico, entre elas Akram Haurani, que havia rompido com seus antigos amigos do Ba'ath e recriou seu próprio movimento se aliando às forças da direita.

Uma nova República Árabe Unida nasce em 17 de abril de 1963, porém, menos de quinze dias da criação da federação sírio-egípcia-iraquiana (o Ba'ath vem a tomar o poder no Iraque) ba'athistas e nasserianos começam a se opor abertamente.

Em 13 de maio de 1963, Bitar constitui um novo ministério, puramente ba'athista, que provoca a passagem à oposição dos nasserianos. Estes últimos tentam um golpe de Estado em 18 de julho de 1963 que fracassa lamentavelmente. Nasser rompe totalmente com o Ba'ath, enquanto que o General Amin al-Hafez se converte no Presidente do Conselho Nacional da Revolução. O CNR promulga uma Constituição provisória em 25 de abril de 1964 que insiste na vocação unitária da Síria ba'athista.



Hafez busca em seguida se aproximar aos unionistas nasserianos e libera os prisioneiros de julho de 1963. Convertendo-se no chefe de governo em 3 de outubro de 1964, ele proclama em 22 de dezembro do mesmo ano a nacionalização dos recursos energéticos e minerais do país, estas primeiras medidas são seguidas no início de 1965 por toda uma série de novas nacionalizações.

As lutas violentas de poder se travam no seio do Ba'ath debilitado pela queda de seu ramo iraquiano. A influência de Aflaq diminui progressivamente e é nomeado em um posto puramente honorífico de Chefe de Partido, enquanto que o doutor al-Razza o sucede no posto vital de Secretário Geral do Ba'ath. Quanto aos "esquerdistas" ba'athistas, como Zouayyen e o General Salh Djedid, ganham terreno substancial no seio de um partido dividido.

Em setembro de 1965, Zouayyen forma o novo governo, enquanto que o Comando Nacional (quer dizer inter-árabe, a Síria faz parte de uma nação árabe que existia para o Ba'ath) dirigido por Hafez e Aflaq se opõem ao Comando Regional da Síria, animado por Djedid.

O General Hafez, em dezembro de 1965, dissolve o Comando Regional e substitui o esquerdista Zouayyen pelo direitista Bitar. Porém, em 23 de fevereiro de 1966, Djedid, por um golpe de Estado, prende Hafez, enquanto que Aflaq foge para o Líbano (eterno terreno de asilo para os políticos árabes que tem o suficiente azar de ter que abandonar seu país).

Zouayyen volta ao governo e se aproxima às URSS autorizando o líder comunista Khaled Baggdache a voltar à Síria.

A inícios de setembro de 1966, o Comando Nacional ba'athista monta um contragolpe de Estado que se apóia nas Forças Especiais do Coronel Salim Hatoum, porém o putsch é abortado.

Todas essas querelas tomam lugar no seio de um partido minúsculo: quatrocentos membros (!) segundo Flory e Mantran, em sua excelente obra: Os Regimes Políticos dos Países Árabes, cifra que nos parece ainda assim muito baixa.

Por outro lado, a de seis a sete mil militantes, dada na Síria por Simon Jargy (no início dos anos 70) que é provavelmente muito exagerada.

Pode-se pensar razoavelmente que uma cifra de mil e quinhentos a dois mil ba'athistas (para uma população total de cinco milhões) é mais próxima à realidade. As divergências religiosas desempenharam um papel importante nessas contendas, os sunitas são mais moderados, enquanto que a seita dissidente alauíta se encontra mais bem no meio favorável aos extremistas de esquerda.

O desastre militar de junho de 1967 golpeou terrivelmente aos "esquerdistas" do Ba'ath, que haviam custodiado em sua reserva as duas melhores brigadas blindadas (nº 10 e 50) para fazer frente a um possível putsch interior da direita e que por razões políticas prepararam mal a armada para este caso, apesar das declarações sensacionalistas: "Quase sete mil oficiais (80% dos corpos de oficiais) foram eliminados depois de 28 de setembro de 1961 e acima de tudo depois de 8 de março de 1963. Dois dos generais mais enérgicos da armada estavam na prisão: Amin al-Hafez (ex-chefe de governo) e Omrane (ex-ministro de defesa) (François Duprat, "A Agressão Israelense", número especial de Défense de l'Occident, julho-agosto de 1967, página 45).

Igualmente, o Coronel Hatoum, especialista das operações comando, regressa de seu exílio jordaniano para combater a armada israelense, será imediatamente preso e executado sob o pretexto de complôs.

Progressivamente, os elementos moderados do Ba'ath se reagrupam em torno ao General Assad, ministro da defesa, que utiliza os defeitos da esquerda para tomar vantagem sobre ela. Assad vai chegar ao poder supremo utilizando o desastre de setembro de 1970, enquanto que as unidades sírias e da Saïka - ramo ba'athista da resistência palestina - são destruídas pela aviação jordaniana, a aviação síria (que se encontra sob a obediência de seu antigo chefe Assad) não lhes dá apoio. Djedid e Zouayyen são dados como responsáveis do fracasso que lamentavelmente se sofreu, são destituídos do governo e Assad controla daí para a frente a situação.

Em um esforço para democratizar o regime, Assad organiza eleições mais ou menos livres, logo de ter concluído um acordo com o Partido Comunista e os elementos nasserianos. Os resultados não desafiam a supremacia do Ba'ath, que se assegura a supremacia no seio da Frente Nacional Progressista: Ba'ath: cento e onze cadeiras, União Socialista Árabe (nasserianos): seis cadeiras, Socialistas Árabes: três cadeiras, independentes: trinta e três cadeiras. A oposição se limita a quatro Irmãos Muçulmanos disfarçados.

Paralelamente, Assad deve enfrentar uma agitação violenta dirigida contra "o ateísmo" e o "socialismo" do Ba'ath, animada pelos Irmãos Muçulmanos clandestinos, que mantém seu poder na Síria.

A maior provação para o regime ba'athista é indiscutivelmente a guerra de outubro, quando as tropas sírias e egípcias tomam de surpresa os israelitas, para a estupefação geral. Os sírios, energicamente conduzidos, são os que obtém o resultados mais perigosos para a entidade sionista, tomando em três dias uma boa parte das Colinas de Golam. Se os poderosos contra-ataques israelitas terminam por destruir a armada síria, esta se redimiu gloriosamente de seu fracasso de 1967. Seu novo prestígio reforça a posição de Assad que cumpriu a tarefa que a extrema-esquerda falava todo o tempo, sem jamais tratar de concretizá-la.

Depois do fim das hostilidades, Assad pratica uma política dinâmica a fim de evitar se separar do Egito, porém deve fazer frente a uma renovada oposição de parte de seus inimigos de esquerda que realizam esforços para se beneficiarem do Iraque, onde se organiza um movimento de resistência, encarregado de reagrupar os árabes hostis aos compromissos de paz com Israel.

O destino de Assad e de sua tendência estão ligados diretamente ao êxito ou fracasso do Plano Kissinger para o Oriente Médio.

Iraque



O Ba'ath clandestino só havia desempenhado um papel ínfimo sob a monarquia Hachemita e não chega a se realmente visível senão até quando o General Kassem toma o poder em 14 de julho de 1958.

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Entrou em luta desde o advento do novo regime contra os três partidos que representam o apoio popular de então de Kassem: o Partido Nacional-Democrático (socialista de esquerda), o Partido Comunista Iraquiano e o Partido da Independência, fascista e ligado a Rachid Ali el-Gailani, chefe da revolta pró-alemã de 19441 dos oficiais do "Palácio de Ouro".

Não obstante, rapidamente se cria uma nova divisão política quando Kassem começa a se situar como rival de Nasser. Os ba'athistas, e por sua vez os unionistas terminam por fazer frente comum com o Coronel Aref (verdadeiro organizador do levante de 14 de julho de 1958), o Partido da Independência e Ali el-Galiani, porém Kassem dissolve o complô e esmaga com sangue o levante unionista do General Chawaf em Mossul, em março de 1959.

As Milícias Populares e o Partido Comunista (que tinham nesse momento seu congresso na mesma cidade) desempenharam um importante papel na supressão do golpe unionista e desenvolvem assim sua influência. Kassem é forçado a manobrar e aceitar em 2 de janeiro de 1960 a autorizar os partidos, ele favorece o nascente PC dissidente (enquanto que o Ba'ath e o verdadeiro Partido Comunista se mantém como ilegais).

O Zaïm (Chefe) Kassem acumula fracassos, não podem se apoderar de Kuwait em junho de 1961, depois de ter feito frente à revolta de Mollah Barzani, no Curdistão, onde sua armada se encalha sem lograr resultados.

Ba'athistas e nasserianos se beneficiam dos fracassos de Kassem, buscam conspirar contra o Zaïm e em 8 de fevereiro passam à ação. Dispõem de escasso apoio: um batalhão blindado, algumas centenas de militantes ba'athistas, quatro aviões MIG 17; porém atual com selvagem determinação, massacram Kassem (diante das câmeras de televisão) e formam uma Guarda Nacional, dirigida pelo General Hassan al-Bakr. Essa Guarda Nacional, composta de jovens massacrando comunistas e progressistas que logo de um momento de hesitação (que lhes será fatal) acudem ajudar o Zaïm. Trinta mil militantes de esquerda foram vítimas da repressão desencadeada pelos ba'athistas após a vitória do levante, o massacre é a obra de Ali Saad al-Saadi, chefe da ala direitista dos ba'athistas no Iraque.

O nasserista Aref forma o Conselho Nacional de Comando da Revolução, porém o Ba'ath parece o mestre e resulta o anfitrião com grande pompa de Michel Aflaq, pouco depois da vitória ba'athista de Damasco em 8 de março de 196.

Porém os ba'athistas estão divididos entre aqueles da Direção Regional Iraquiana, ultradireitista de Saad al-Saadi e de Kazzar, entram em conflito com a Direção Nacional de Aflaq, que busca limitar suas ambições em vistas de evitar um conflito aberto com Aref.

Aref se beneficia das dissenções ba'athistas e em 18 de novembro de 1963 dissolve a Direção Regional do partido e seu braço secular, a Guarda Nacional, cujos membros jovens são pouco tendentes a querer continuar suas operações de polícia e não cessam de enfrentar o exército regular. Por outra parte a ruptura entre Nasser e os ba'athistas provoca a cólera dos unionistas cujos membros apoiaram Aref em sua luta contra o Ba'ath.

Em 18 de dezembro de 1963, Aref proíbe todos os partidos, depois de ter acabado coma mal-coordenada resistência da Guarda Nacional (que os ba'athistas moderados não apoiam) e se afirma abertamente sobre o Egito.

Em 14 de julho de 1964 ele forma a União Socialista Árabe do Iraque, destinado a ser o partido único do país, sob o modelo da União Socialista Árabe do Egito e cria em outubro de 1964 um Comando político único com o Egito que não terá resultados concretos. Por sua vez Aref não logra resolver o problema curdo, vacilando entre a guerra e as negociações.

Aref morre em um misterioso acidente de helicóptero (muito provavelmente uma sabotagem) em 13 de abril de 1966. Seu irmão o sucede porém ele não tem todas as suas qualidades e o regime rapidamente se torna incapaz de fazer frente ao descontentamento crescente.

Em julho de 1968, um golpe dos oficiais descontentes, sem grande coloração política, permite ao Ba'ath se aproximar ao poder. Rapidamente os ba'athistas logram eliminar seus associados e aproveitam para tomar a totalidade do poder, enquanto que o antigo chefe da Guerda Nacional, o General al-Bakr se converte em Chefe de Estado. Os ba'athistas do Iraque, membros da ala direitista do partido se enfrentam aos responsáveis sírios e dão as boas vindas a Aflaq que abandona Beirute para se instalar em Bagdá.

A polícia política dirigida por Nazem Kazzar (que vimos no papel da liquidação da esquerda iraquiana em 1963) e o ramo militar do Ba'ath (dirigido por Mohammed Fadel e pelo agrupamento dos oficiais membros do partido) organizam um regime de terror que elimina a família Takriti, particularmente influente no exército. É também pelo terror que se mantém no poder um partido minúsculo, de algumas centenas de membros (ainda menos que os da Síria), e podemos crer legitimamente que estavam absolutamente desconectados das massas. O regime, inicialmente contrário aos comunistas e às URSS, termina por liquidar a disputa com o tratado russo-iraquiano, e com a entrada de dois ministros comunistas no governo da coalizão de maio de 1972.

O golpe falido de Kazzar (termina com trinta e cinco execuções após a morte do Ministro de Defesa o General Chahab que havia sido tomado como refém e é capturado pela polícia comandados por Saddam Hussein, durante sua fuga para o Irã). Em 30 de junho de 1973, em vistas de deter essa evolução e encomendar o governo do Iraque à Direção Nacional do Ba'ath e portanto a Michel Aflaq, cada vez mais direitizado.

Apesar da conclusão do Pacto de Ação Nacional em 17 de julho de 1973 entre o Ba'ath e o Partido Comunista, que buscava a constituição de uma Frente Nacional, a ala direitista ba'athista não resulta afetada pelo fracasso sangrento de Kazzar. Como dirá o escritor Eric Roulleau, em um artigo chamado "Iraque à Sombra das Intrigas", no Le Monde de 20 de julho de 1973:

"Paradoxalmente a eliminação de Nazem Kazzar contribuiu para reforçar a ala direitista do partido ainda quando o antigo chefe da segurança reflete todavia a ideologia. Em efeito, os conservadores, incluídos os militares, recarregaram sobre a esquerda - particularmente sobre Saddam Hussein - a responsabilidade pelos últimos eventos. Argumentando que todos aqueles que estiveram vinculados ao complô são considerados, mais ou menos, como os homens de sua devoção...

Foram utilizados para reforçar os poderes da facção civil e radical do Ba'ath em detrimento do exército.

Este último...exigirá manter uma participação efetiva no exercício do poder, uma reorientação da política interior no sentido de firmeza contra os comunistas e os autonomistas curdos e na política exterior, considerada muito favorável à URSS".

Um novo enfrentamento de forças parece provável no Iraque entre a tendência nacionalistas do Ba'ath e a esquerda à sombra de Hussein, Bakr, centristas moderados que podem desempenhar um papel decisivo no conflito. Porém a guerra de outubro provocou, de novo, mudanças profundas. O Iraque anima o movimento de resistência e aparece como o centro da resistência às negociações com Israel. Ademais, a ruptura parece a ponto de conduzir a uma nova guerra, sob o plano das relações entre os curdos e o Ba'ath, tudo permite à ala direitista ba'athista reforçar rapidamente sua posição. Aflaq e seus amigos claramente não deram sua última palavra no Iraque.

Os outros países árabes:



Existem núcleos ba'athistas, muitas vezes clandestinos, em certo número de outros países árabes. Um grupo ba'athista foi desmantelado pela polícia de Túnis em 1970. Os ba'athistas foram altamente ativos na Jordânia, inclusive no plano parlamentar, antes de sua proscrição pelo governo monárquico. Uma ação clandestina não obstante persiste ali. Existe por sua vez pequenos grupos clandestinos no Egito.

No Líbano, em 1958, durante a guerra civil o Ba'ath desempenha um papel importante sob a direção de Abdel Medjid Rafi, que buscará em diversas ocasiões constituir um governo revolucionário contra o governo legal. Não obstante, a importância do partido se mantém limitada apesar de que pela primeira vez, ela se preparou para obter um eleito nas últimas eleições, estes últimos são favoráveis ao ramo iraquiano do Ba'ath libanês, que por sua vez estão divididos em duas facções rivais.

Não se dá durante a formação da Resistência Palestina a divisão por essa rivalidade, pelo menos entre duas delas:

- A Saïka, a segunda formação em importância da Organização de Liberação Palestina (depois do Fatah), e está sob o controle completo dos ba'athistas de Damasco. Até a tomada de poder por Assad, a Saïka constituía o apoio essencial militar da ala esquerdista do Ba'ath sírio.

- A Frente de Liberação Árabe foi criada por Bagdá para ser um contrapeso à Saïka e demonstrar o interesse de Bagdá pela luta palestina. Sua importância se encontra muito limitada, porém nós podemos pensar que rapidamente podem aumentar seus efetivos, em razão de sua posição oposicional determinada nos processos de negociação em curso. A Frente já obteve o apoio da Frente Popular para a Liberação da Palestina do Doutor Habbasch.