06/01/2011

Guerra Eterna

"Não há homem nenhum que, sabendo-o ou ignorando-o, não seja combatente nesse intenso combate; nenhum que não tenha uma parte ativa na responsabilidade da derrota ou da vitória. Do mesmo modo combate o prisioneiro em seus grilhões como o rei em seu trono; do mesmo modo o pobre como o rico, o sadio como o doente, o sábio como o néscio, o cativo como o livre, o velho como o moço, o civilizado como o selvagem. Toda palavra que se pronuncia, ou está inspirada por Deus ou inspirada pelo mundo, e proclama forçosamente, de uma maneira implícita ou explícita, porém sempre clara, a glória de um ou o triunfo do outro. Nessa singular milícia todos combatemos por alistamento obrigatório; aqui não há lugar nem o sistema de substituições, ou o de alistamento voluntário. Nela não se conhece nem a exceção de sexo, nem a de idade; aqui não se escuta ao que diz: 'Sou filho de viúva pobre', nem à mão do paralítico, nem à mulher do inválido. Dessa milícia são soldados todos os nascidos.

E não me digas que não queres combater, porque no instante mesmo em que me o dizes estás combatendo; nem que ignoras a que lado inclinar-te, porque no momento mesmo em que o dizes já te inclinaste a um lado; nem me afirmes que queres ser neutro, porque, quando pensas sê-lo, já não o és; nem me assegures que permanecerás indiferente, porque zombarei de ti, pois ao pronunciar esta palavra já tomaste teu partido. Não te canses em buscar asilo seguro contra os azares da guerra, porque te cansas inutilmente; essa guerra se dilata tanto como o espaço e se prolonga tanto como o tempo."
(Juan Donoso Cortés)